sexta-feira, 27 de abril de 2012

EM BUSCA DA PERFEIÇÃO




Em busca da perfeição
Psicólogo Gilvan Melo


Uma das heranças do período do renascimento foi o reconhecimento do homem como um ser superior aos animais pelo simples fato de pensar. “Penso, logo existo”, dizia o célebre pensador francês René Descartes. Entretanto, foi outro francês, Jean-Jaqques Rousseau, quem afirmou que não é a racionalidade que distingue os homens dos animais, mas a compaixão, a liberdade e a perfectibilidade. É sobre esta última que refletiremos nesta tarde.
Criados à imagem e semelhança de Deus, que é perfeito, os cristãos entendem que todo e qualquer sofrimento é justificado pela certeza da salvação, através do caminho da santidade; santidade aqui vista como um processo de perfeição. “Sede perfeitos como o Vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 48). Aliás, é sob esta inspiração que nascem a Igreja, os carismas, os Santos e Santas da Igreja.
No campo da filosofia grupos distintos se dividiam em torno de duas concepções: o homem nasce mau e a sociedade tenta educá-lo para o bem (visão de Thomas Hobbes) ou o homem nasce bom e a sociedade o corrompe (visão de Jaqques Rosseau). Nasciam, então, dois eixos em torno da sócio-política: o totalitarismo e a democracia. Na física uns acreditavam que o mundo caminhava em direção à ordem, outros afirmavam que o mundo tendia à desordem. Na sociologia moderna alguns pensam a sociedade como um sistema ordenado, em contraposição à concepção dialética de que o conflito é a mola propulsora da transformação social. Enfim, em diversas áreas do conhecimento, duelam as duas correntes: a que acredita na força da ordem, de que tudo tende à perfeição, e a segunda, que acredita que tudo está à mercê do acaso. Especificamente no campo da psicologia a psicanálise, por exemplo, privilegia em suas pesquisas e abordagens, o aspecto neurótico da pessoa, enquanto as abordagens humanistas, a exemplo da logoterapia, privilegiam o processo de crescimento humano, acreditando que tende a pessoa ao desenvolvimento pleno de suas capacidades psíquicas e espirituais.
Diante desta dicotomia habita um perigo: há muitas pessoas que confundem busca de perfeição com perfeccionismo. Enquanto a busca pela perfeição é entendida como um dom de Deus oferecido à pessoa, o perfeccionismo é um sintoma do obsessivo-compulsivo que encontra nele uma satisfação neurótica. Freud aqui tem razão: pessoas perfeccionistas tentam esconder o complexo da incerteza, proveniente da neurose obsessivo-compulsiva, por detrás do discurso de busca de santidade. São pessoas que exigem demais de si próprios, dos outros e de Deus; criam um deus falso, feito à imagem e semelhança da sua própria neurose. O padre americano Richard Rohr, um dos autores do livro O Eneagrama: as noves faces da alma, foi um dos poucos a admitir esta suposta intenção. Perfeccionista convicto, diz Richard: “A busca da perfeição domina nossa vida e é a nossa tentação propriamente dita.” Diz ainda: “Sei que fiz meu trabalho não apenas por amor ao Senhor Jesus. Parte daquilo foi feito pura e simplesmente por e para Richard.”
No filme Cisne Negro, de  Darren Aronofsky, é possível aprendermos uma lição: a personagem Nina, caracterizada como obsessivo-compulsiva, buscava atingir o grau último de perfeição através da dança. No entanto, para ser perfeita precisava ser imperfeita a ponto de refazer seus passos de bailarina de uma forma mais espontânea e mais leve, ou seja, necessitava aprender a fluidez imperfeita das dançarinas iniciantes. Sobre esta questão Viktor Frankl acrescenta que quando buscamos a santidade/perfeição não a encontramos, porque ela não deve ser uma meta, senão uma vivência.
Enfim, precisamos nos questionar: buscamos a perfeição sem a pretensão de adquiri-la ou o perfeccionismo sem a dignidade de assumirmos que trata-se de uma compulsão? Deixemos o padre Richard Rohr concluir: “Devemos dar nomes às nossas ilusões e desmascará-las, a fim de abrir lugar à graça de Deus que pode ajudar-nos a construir uma vida autêntica em vez de enganarmos a nós mesmos.”

FELIZ SEMANA PARA TODOS.

segunda-feira, 23 de abril de 2012


"Não reclame da vida,
levante a cabeça,
Dias ruins são necessários,
para os dias bons valerem apena"

PADRE JONAS ABIB...MENSAGEM DO DIA

Não podemos perder tempo
Atenção, pais! Quando vier, o Senhor não perguntará quem você colocou na faculdade ou quem você casou com o melhor partido – tudo isso é secundário e, aliás, costuma dar dor de cabeça. Ele perguntará a cada um de nós: "Como você negociou? Quem você comprou e garantiu para o Reino de Deus? Quem você colocou no céu?"

Você está entendendo? Mais do que nunca, não podemos perder tempo. É preciso investir tudo! Investir todo o nosso tempo, porque o tempo é breve. Invista todo o seu tempo, a sua vida, a sua saúde, as suas energias no Reino de Deus. Não os desperdice no reino das trevas! Já servimos demais ao príncipe deste mundo e já construímos demais esta Babilônia!

É preciso investir tudo aquilo que somos – conhecimentos, capacidades – unicamente no Reino de Deus. Os dotes artísticos, a vontade, a criatividade, as capacidades de mãe, de educadora, de pai, de administrador, de empresário, entre outros, precisam ser investidos em Deus. Sua honradez não pode estar voltada para o príncipe deste mundo. Muitos pais dizem: "Sou um homem honesto, trabalhador, honrado", mas investem onde? Infelizmente, no vazio, no nada, no reino do príncipe deste mundo. E isso vai passar… Tudo o que você é, o que sabe, o que Deus lhe deu, precisa ser investido em boas obras, para salvar almas.

Não podemos salvar só os nossos. Você sabe que ninguém é profeta na própria casa. Então, temos de investir fora dela. Temos de dar a vida pelos outros, para que salvem os nossos, os que não conseguimos salvar.

Deus o abençoe!

Monsenhor Jonas Abib
Fundador da Comunidade Canção Nova
FONTE: cancaonova.com

O SENTIDO DA VIDA


 O sentido da vida

Psicólogo Gilvan Melo

“Hoje é páscoa porque tenho a graça de te ver”. Eleva-se a oração de São Bento após alguns dias de exílio espiritual. Estas palavras expressam bem o sentido da páscoa: enxergar o outro, abrir-nos a Deus e através desta abertura, encontrar-nos a nós mesmos. A partir do último domingo de páscoa serão cinquenta dias de vida nova até a festa de pentecostes, o completo derramamento do Espírito Santo no seio da igreja. Mas por que muita gente, incluindo muitos que se dizem cristãos, mesmo no período da páscoa, não saem da agonia do horto das oliveiras? Quantos de nós ainda não enxergamos o sentido da vida, mesmo com o exemplo de despojamento e Amor do Cristo?
Quem vem acompanhando este quadro desde o início deve ter percebido que seguimos uma trilha percorrida pelo mesmo trajeto de Jesus Cristo antes da morte e ressurreição: Da solidão e angústia do horto, passamos pelo sofrimento, paixão e morte, atravessados pelo sentimento de culpa dos que o acusaram ou o abandonaram. Hoje contemplamos como os discípulos de Emaús que não está mais entre os mortos aquele que ressuscitou. Ultrapassou a morte aquele que é o caminho, a verdade e a vida. Venceu o pecado quem não o teve. Aos que morriam de fome, o pão da vida os saciou.
Até aí tudo bem, até entendemos o percurso e o exemplo de Cristo Jesus, mas em nossas existências, como perceber o sentido da vida?
Mais uma vez recorremos à Logoterapia. Para Viktor Frankl, o seu fundador, existem três maneiras de encontrarmos o sentido da vida: Através do que fazemos, incluindo a nossa vocação, missão, profissão, atividades em geral; através das experiências que temos com as pessoas, com Deus e com a natureza, sejam vivências no campo estético ou religioso; por fim, através da atitude que tomamos diante do inevitável: a culpa, a morte e o sofrimento.
Diante destas pistas apresentadas por Frankl, pergunto: somos realizados naquilo que fazemos, na profissão que escolhemos, na vocação que abraçamos? Vivemos junto das pessoas que gostamos, sem interesse algum pelo que elas têm ou pelo que elas nos trazem de retorno? Amamos a Deus e os outros sem nada querermos em troca, senão pela companhia ou pela simples amizade? Continuamos íntegros e felizes mesmo diante de situações adversas tais como doenças, morte de alguém querido ou perante nossos erros passados?
Não se trata de um teste matemático para sabermos se enxergamos ou não o sentido da vida, mas de compreendermos, didaticamente, o grau de realização por nós vivenciado. Importante destacar que não está dentro de nós o sentido, tampouco podemos nós mesmos atribuir sentido em cada momento da vida, mas se trata de percebermos este sentido em cada situação; e mais do que isto: enxergar o sentido além de cada situação: um sentido último, um supra-sentido, o próprio Deus.
Se antes dissemos que o “sentido da morte é dar sentido à vida”, hoje concluímos que o sentido da vida é transcender a morte, consumindo-nos e até sofrendo, por Amor a Deus e aos outros.
“Hoje é Páscoa porque tenho a graça de te ver.”

SAÚDE E PAZ.
Gilvan Melo



domingo, 8 de abril de 2012

O SENTIDO DA MORTE




Psicólogo Gilvan Melo

Na próxima sexta-feira celebraremos a crucifixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Católicos do mundo inteiro relembram e atualizam o mistério da cruz, símbolo outrora de morte e que, com a ressurreição de Cristo no domingo de páscoa, tornou-se um sacramento da vida. Se na sexta mergulhamos e aceitamos a morte de Cristo, pergunto como encaramos a nossa própria morte e a morte dos nossos entes queridos? Como justificar o medo da morte por parte de nós ocidentais? Por que razão não compreendemos o sentido da morte?
Como uma simples vela que se consome para brilhar os que dela se aproximam, e como a sombra de uma árvore frondosa que torra diante do sol para exalar ar puro aos pássaros e pessoas que a acaricia, também deveríamos entender que viver é morrer a cada instante. E que “quem tem medo de morrer, tem, na verdade, medo de viver”, tal como afirmou Viktor Emil Frankl, o fundador da Logoterapia e Análise Existencial.
O que hoje volto a refletir é que, da mesma maneira que descobrimos o sentido da culpa e do sofrimento, podemos também perceber o significado da morte. Filósofos do século XIX e século XX, tais como Heidegger, Shopenhauer e Boss, ao tentarem compreender o fenômeno da existência, chegaram à conclusão de que a morte e o tempo são os principais provocadores da “angústia essencial” que tanto incomoda quanto instiga a pessoa humana a buscar sentido em todas as coisas. Diferente dos animais irracionais, o homem e a mulher possuem a consciência de sua finitude, fazendo da vida uma tentativa frustrada de vencer a morte, sem que para isto não tenha o tempo necessário, definido ou previsível da vitória ou derrota.
Segundo o antropólogo francês Gilbert Durand existem três formas do ser humano lidar com a morte. A primeira é lutando contra ela através de armas simbólicas, seja uma lança, uma espada ou uma fecha, tal como o imaginário do herói que nos é a grande inspiração. Quem não se lembra da lança de São Jorge? A segunda forma é tratando a morte como uma amiga ou irmã, aproximando-nos dela ou a engolindo simbolicamente, tais como os exemplos do profeta Jonas e de São Francisco de Assis. A terceira maneira de nos lidar com a morte é transcendê-la, seja literalmente como assim fez, e unicamente fez, Jesus Cristo, seja metaforicamente como fazemos cada um de nós quando damos um sentido a ela.
Em suma, se hoje nos perguntarem: afinal, que sentido tem a morte? a Logoterapia poderia dar a resposta: “o sentido da morte é dar sentido à vida”, pois não fosse ela adiaríamos as nossas ações, as nossas vontades, a nossa missão, enfim, deixaríamos para o amanhã o que deságua no presente de nossa existência.
O apóstolo Paulo está absolutamente certo: “se Cristo não tivesse ressuscitado vã seria a nossa fé” (1 Cor 15, 14). Completo: se Cristo não tivesse ressuscitado, que sentido teria a morte? É porque Ele ressuscitou que nesta sexta-feira santa confessamos os nossos pecados, trilhamos os caminhos da via-sacra e beijamos a cruz, principal símbolo da vitória da vida sobre a morte.

A todos,

SAÚDE E PAZ.