Há razão para o ciúme?
Atônitos todos nós
acompanhamos as notícias sobre o crime aparentemente passional da bacharela em Direito Elize Matsunaga ,
que assassinou e esquartejou o bilionário Marcos Matsunaga. De um conto de
fadas no qual a mocinha pobre do interior do Paraná encontra o seu príncipe
encantado, a um final macabro de filmes de terror, supostamente a motivação da
morte foi o ciúme. Deixando outras motivações do crime à parte, põe-se em
discussão: até que ponto o ciúme é benéfico ou maléfico numa relação a dois?
Tendo como sentimentos
básicos do ser humano o amor e o ódio, entendo que o ciúme transita entre os
dois, ou seja, ora motivado por um sentimento de zelo ao outro, ora mobilizado
por sentimentos de posse, torna-se difícil identificarmos quando ele – o ciúme
– é bom ou não à relação. Entretanto podemos aprofundar esta questão.
Vejam: se ao vermos o
nosso parceiro ou parceira com outra pessoa aos abraços, beijos ou intimidades
além da conta, e não sentimos ao menos uma ponta de ciúme, constatamos que há
algo de errado em nós.
Certamente o ciúme seria o sentimento mais provável nesta
situação. Desabrochariam inseguranças, sentimentos de perda, de impotência, que
consumaria em atos prováveis de agressões verbais ou físicas em direção ao
parceiro (a). Estaríamos diante de um ciúme normal. Logicamente que falar em
agressão e falar em assassinato e, principalmente, em esquartejamento, é outra
coisa completamente diferente.
Vejamos duas outras situações:
primeira: encontramos um número telefônico de um estranho ou estranha no bolso
da camisa do parceiro ou na bolsa de nossa parceira; segunda: ao telefonarmos
para o nosso namorado ou namorada descobrimos que ele ou ela não se encontra em casa. Se em ambas as
situações, deduzimos que estamos sendo traído ou traída, é, no mínimo, uma
atitude precipitada, quando não até neurótica. Ora, podemos até questionar de
quem é o número do telefone encontrado ou para onde foi o nosso amado (a), sem,
contudo, e antes, amarmos um barraco ou agredirmos com ofensas verbais ou
físicas o parceiro ou parceira. Quando se instala um ciúme de natureza
semelhante a estas situações, estamos diante de um ciúme patológico.
Para o espanhol Miguel de
Cervantes "Os ciumentos sempre olham para tudo com óculos de aumento, os
quais engrandecem as coisas pequenas, agigantam os anões e fazem com que as
suspeitas pareçam verdades."
E se “o ciúme quando é
furioso produz mais crimes do que o interesse e ambição”, como disse o pensador
francês Voltaire, fica a lição do inglês
William Shakespeare, que
escreveu Otelo, o Mouro de Veneza, um
clássico da literatura e da temática do ciúme: “Meu Senhor, livrai-me do ciúme!
É um monstro de olhos verdes, que escarnece do próprio pasto que o alimenta.
Quão felizardo é o enganado que, cônscio de o ser, não ama a sua infiel! Mas
que torturas infernais padece o homem que, amando, duvida, e, suspeitando,
adora.”
Felizes mesmo são aqueles
que amam e não precisam do ciúme para provar que amam. Amam pelo simples fato
de amarem sem nada quererem em troca, nem mesmo a recíproca do amor. E amando,
vivem apenas o seu amor e acreditam no amor do amado ou da amada.
AOS AMANTES DO AMOR,
FELIZ DIA DOS NAMORADOS.
Psicólogo Gilvan Melo